Quem me conhece minimamente, sabe que eu estaria na estreia da adaptação para cinema do musical Les Misérables de Claude-Michel Schonberg. E assim foi. Bilhetes comprados na véspera para não haver azares e, à hora marcada, lá estava eu. Sem que isso afecte minimamente a minha heterossexualidade, admito o mais publicamente possível que sou um enorme fã de Les Misérables.
Conheço a obra quase desde a sua origem, na versão inglesa. Tenho o Complete Symphonic Recording que mandei vir dos EUA. Conheço todas as músicas de as ter ouvido vezes sem conta. Por tudo isto, reconheço que as minhas expectativas eram bem altas para este filme. Do elenco seleccionado, Hugh Jackman, Amanda Seyfried e Anne Hathaway pareciam escolhas seguras. Russel Crowe, um risco. Desconhecia Eddie Redmayne e Samantha Barks escolhidos para duas personagens fundamentais no segundo acto. Quanto a Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter pareciam tiros certeiros para as personagens mais caricatas do enredo.
Antes de me debruçar sobre o que achei do filme, começo por mandar os senhores do Cascais Shopping para o centro da Terra, bem para o núcleo, onde deve estar quente o suficiente para acordá-los. Passa na cabeça de alguém por um musical numa sala só com som nas colunas da frente e com um ecrã de merda! A sala 3, quanto muito, deve dar para ver um filme qualquer de autor onde não interessa muito a qualidade do que se ouve nem é preciso ver numa dimensão demasido grande uma parede branca com um relógio a tiquetar durante 5 minutos enquanto um narrador fala de uma desventura qualquer. Ide pró...meus amigos!
Agora sobre o filme. Se bem que a qualidade do som me tenha estragado um pouco a experiência, confesso que achei a produção muito boa. Aliás o Cameron Mackintosh não costuma brincar. Para quem não sabe é só o mesmo produtor do Fantasma da Ópera. Tudo dito. Quanto aos actores, tudo perfeito com excepção do Russel Crowe. Javert não é uma personagem fácil. O seu grande momento, Stars, exige muito mais do que o que Crowe consegue dar. Previsível. Hugh Jackman muito bem com um momento alto em Bring Him Home. Anne Hathaway defende bem Fantine, uma personagem chave carregada de drama, embore o I Dreamed A Dream pudesse ter outro enquadramento de realização que não só a cara dela em grande plano em profundo sofrimento. Amanda Seyfried brilhante e não se percebe porque é que o disco da banda sonora não tem o seu solo do In My Life. Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter muito bem no Master Of The House. Por fim,as duas grande surpresas Eddie Redmayne e Samantha Barks. O primeiro defende Marius brilhantemente. Empty Chairs At Empty Tables acaba por ser um dos grandes momentos do filme, juntamente com On My Own de Samantha Barks. Duas interpretações de topo.
Por fim, apenas uma ou duas notas. Entrar numa sala de cinema para ver Les Misérables sem saber que se trata de um musical é só triste. Mas as modas têm destas coisas. Também percebo que para quem nunca ouviu o musical, o primeio acto não é fácil, embora fundamental para se conhecer a história. Schonberg decidiu guardar os grandes momentos para o segundo acto. Agora criticar o filme porque tem música a mais é para além de besta! Os críticos de cinema conseguem ser uns autênticos animais e demonstrar uma profunda incoerência quanto criticam uma obra para a qual não têm capacidade de análise. A abstinência aqui seria uma escolha mais prudente ao invés de cair no ridículo. Esperemos que os senhores da Academia tenham outra opinião.
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